sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

CAPÍTULOS 6 E 7

Capítulo 6

Eu estava me arrumando para ir até à casa do Lucas. Coloquei uma calça jeans e uma blusa roxa de manga comprida. Peguei minha mochila com o livro de Literatura, coloquei nas costas e fui até o prédio. Chegando lá, apertei o sexto andar e fiz o mesmo trajeto de uns dias atrás. A mesma mulher atendeu a porta com um grande sorriso na boca. Eu perguntei sobre o Lucas e ela pediu para eu esperar na sala que ele já estava vindo. Uns cinco minutos depois, o garoto apareceu com o cabelo molhado e despenteado. Trajando uma blusa normal, branca e uma bermuda azul repleta de flores havaianas.
-Tudo bom, Lia? –perguntou, dando dois beijinhos nas minhas bochechas.
-Tudo e com você?
-Também. Vamos tentar adiantar alguma coisa então? –ele se sentou no sofá e pegou um caderno e um lápis.
-Vamos. –eu fiz o mesmo.
-Nós temos que falar de amor e destino... –começou.
-Pois é...
-Diz pra mim o que você acha de amor e depois eu digo. Aí, nós juntamos nossas opiniões. Pode começar. –ele se preparou para escrever.
-Eu não acredito no amor. –afirmei, escrevendo essa frase ao lado do meu nome.
-Não acredita? –ele deu um risinho. -Como assim?
-Não acredito, oras. Eu não acho que haja amor entre um homem e uma mulher. –comentei simplesmente.
-Espera aí. Por que não? –ele estava intrigado.
-Eu não acho que existe. Amor é uma invenção capitalista, é um sentimento inventado para nos fazer comprar, gastar.
-Do que você está falando?
-Olha, sinceramente, eu acho que as pessoas são egoístas demais para amar. Elas só pensam em si mesmas, só ligam para as suas vidas. O que existe hoje em dia é interesse e não amor. O ser humano se diz capaz de amar, mas eles nem sabem o que é isso. O que existe entre um homem e uma mulher é atração.
-Você não sabe do que está falando. Claro que o amor existe. Você sabe que existe, quando você o sente.
-As pessoas não sabem amar ninguém além delas mesmas. –respondi, com simplicidade.
-Ah, então uma mãe não pode amar o seu filho? –arqueou a sobrancelha.
-Não disse isso. Estou falando entre homens e mulheres, afinal, o trabalho é sobre isso, não é mesmo?
-Você foi traída pra ser tão revoltada assim?
-Não. Eu só tenho os olhos bem abertos.
-Vai ser impossível fazer isso! Você não diz coisa com coisa. Como alguém pode não acreditar no amor?
-Cada um acredita no que quer.
-Eu sei, mas você não deveria se fechar assim. Você já amou alguém?
-Não, porque amor não existe! –eu estava ficando irritada. -As pessoas confundem paixão com amor.
-Você nunca amou e por isso acha que não existe.
-Não tem nada a ver.
-Claro que tem. Por que você começou a achar que não existia? –perguntou curioso.
-Nada. –fiquei em silêncio. -Simplesmente percebi com o tempo como as pessoas são. Amor é uma palavra muito irreal.
-Não é só porque você nunca amou alguém que as outras pessoas não podem amar.
-Você não vai me convencer. –avisei.
-Como você pretende fazer esse trabalho, se discordamos completamente de tudo? –perguntou interessado.
-Não sei. –falei, olhando em seus olhos.
-Ótimo! –ele jogou a cabeça para trás. –Você é muito cabeça dura.
-Eu? Eu não sou obrigada a ter a mesma opinião que você.
-E seu namorado? Você não ama o seu namorado não?
-Não! E eu não tenho namorado. –respondi obviamente.
-E aquele garoto com você ontem no restaurante?
-Ele não é meu namorado.
Ele ficou sem respostas, apenas me olhando. Estávamos em silêncio.
-Não sei como nós vamos fazer esse trabalho. Eu estou com dor de cabeça. Vamos dar uma volta e ver se entramos em um acordo?
-Pode ser. –respondi, indiferente, passando a mão na cabeça do cachorro que tentava pular no meu colo.
Não que eu estivesse a fim de brigar com ele, mas simplesmente era impossível alguém me convencer de que o amor realmente existia. Eu sabia exatamente que aquilo era uma invenção do ser humano para ele não se sentir como realmente é: egoísta. Não que eu não ache que as pessoas possam se gostar, elas podem, mas amor é um termo muito forte para o que uma mulher sente por um homem. Nós sentamos em um banco de uma pracinha, não muito longe de sua casa e ficamos ali parados, olhando um casal com seus filhos.
-Você acha que os dois não se amam? –perguntou sem tirar os olhos da família.
-Não, sinceramente, eu não acho.
-Olha como eles estão felizes! –exclamou apontando.
-Quem te garante isso? Que te garante que eles só estão juntos por algum outro motivo? Você nem os conhece.
Ele bufou irritado.
-Olha, eu não quero discutir. Talvez seja melhor deixarmos esse trabalho pra depois. –falei, olhando em seus olhos.
E que olhos lindos que ele tinha! Era de um verde tão profundo que era possível se perder dentro deles. E não era um olhar qualquer, era um olhar voluptuoso e seguro. Se você chegasse mais perto, conseguiria ver algumas ramificações azuis. Ele também me fitava, enquanto estava analisando-o.
-Tudo bem... –respondeu, sem tirar os olhos dos meus.
Aquilo estava ficando constrangedor, mas eu não sei o porquê, era bom ficar ali parada, sentindo a brisa bater no meu rosto e olhando minha imagem refletida naqueles grandes olhos da cor do mar.
-Está tentando descobrir o que eu estou pensando? –indagou, sorrindo.
-Talvez.
-Eu não acho que vá conseguir...
-Não? Eu já consegui. –avisei, olhando para o outro lado.
-Mesmo? Então o que eu estava pensando? –perguntou, curioso, se inclinando para mais perto de mim.
-Que eu sou louca por não acreditar em amor. –respondi, olhando para ele novamente.
-Errado. –abriu um sorriso ainda maior.
-Então, sobre o que estava pensando?
-Em como seus olhos são bonitos. –admitiu, olhando para o chão.
Certo, meus olhos são bem legais, eu realmente gosto deles. São bastante pretos e têm algumas pintinhas azuis que você só percebe quando chega muito perto. Até agora ninguém tinha percebido, não que eu saiba.
-É, os seus também são. –comentei, sorrindo.
-Obrigado.
-Parecem o céu... –percebeu, ficando com o rosto bem próximo ao meu, analisando-os.
-Por quê? –perguntei curiosa.
-Ele é preto e isso me lembra o céu e tem algumas manchinhas azuis que parecem as estrelas.
Ok, essa frase realmente me assustou. Como assim, ele tinha percebido? Nem a Drica e o Mateus, que eram meus amigos desde que me entendo por gente, sabiam disso. E o jeito como ele falou fez com que eu me arrepiasse, mas talvez fosse só o vento que estava batendo. É. Definitivamente, era o vento. Desviei o olhar, tentando quebrar a tensão que estava entre nós.
-Acho melhor irmos embora... –falei, levantando-me.
-É... Acho... Vamos. –ele pareceu um pouco surpreso, mas fez o mesmo e me seguiu.
-Acho que podemos fazer um tipo de debate na redação. Primeiro você defende o que acha e depois eu faço isso. –comentei no caminho.
-Mas vamos desmentir o que falamos no início.
-É, não tinha pensado nisso.
-Aaaaaaah, isso vai ser impossível!

O dia passou e nós não tivemos nenhuma ideia para fazer o trabalho. Eu cheguei em casa, não vi nenhum ser vivo e fui direto para o meu quarto. Ótimo, agora eu estava com aquele loiro na minha cabeça e, simplesmente, não saía. Por que ele era tão irritante com esse assunto? Parecia ser um defensor do amor. Como se ele fosse amado! Até parece que aquele monstro da namorada dele era capaz de amá-lo. Peguei o telefone e liguei pra Drica.
- Ué, já tá em casa? –ela perguntou assim que atendeu.
-Pois é, eu fui caminhar com o Lucas pra ver se tínhamos alguma idéia e acabei voltando pra casa direto.
-E então? Fizeram alguma coisa? –quis saber curiosa.
-Não! Por incrível que pareça, ele é um romântico e vai ser impossível fazermos uma redação juntos.
-Não brinca?! Logo você que não acredita nessas coisas foi pegar uma dupla assim? É, você não tem sorte.
-Pois é, mas enfim, você já decidiu o que nós vamos fazer sexta? –mudei de assunto.
-Acho que vamos pra casa do meu pai. Ele vai comprar um bolo ou sei lá.
-Certo. Vou tomar um banho. A gente se fala amanhã. Beijo.
-Beijo.

Eu entrei no banheiro e fiquei parada em frente ao espelho, observando meus olhos. Ele... Como ele percebeu? Chacoalhei a cabeça, tentando afastar mais uma vez meus pensamentos.
-Chega, Lia. –falei para o meu reflexo no espelho.
Tomei um banho demorado, vesti meu pijama e fiquei sentada na cama fazendo algumas contas. Depois de um tempo, meu telefone tocou.
-Ah, oi, é... Eu poderia falar com a Lia? –aquela voz era familiar.
-É ela.
-Ah, sou eu, Lucas. –disse, calmamente.
-Ah, tudo bom? –perguntei, sem graça.
Como ele conseguira meu telefone?
-Tô bem. Olha, eu estive pensando... Você quer mesmo dizer o que você pensa? Sabe, por que você simplesmente não diz que acredita e a gente termina logo essa redação?
-Porque eu não acredito, oras. –respondi obviamente. – Olha, eu vou pensar em alguma coisa.
-Não dá. Você não vai conseguir pensar em nada.
-Então por que nós não dizemos que não acreditamos?
-Porque eu acredito!
-E eu não. Se você também não quer mentir, eu também não vou.
-Certo... Já estou queimando meus neurônios aqui pra descobrir um jeito de fazer isso. –contou, rindo.
-Cuidado pra não botar fogo na casa. –falei, fazendo-o rir. –Olha, se não conseguirmos pensar em nada, faremos isso. A gente tira na sorte pra ver se acreditaremos ou não. Combinado?
-Combinado, então. Bem, boa noite...
-Pra você também. –e desliguei.
Ouvi passos na sala e, quando vi, meu irmão tinha chegado com uma pizza.
-Ótimo, eu estou morrendo de fome. –falei, pegando um pedaço.
-Vou sair com a Thalita amanhã. –disse, contente.
-Mentira?! Ligou pra ela?
-Liguei. Ela é muito simpática. Por que vocês não são amigas?
-Sei lá. Ela é da outra sala.
-O Daniel te mandou um beijo.
-Você tava com ele? –perguntei.
-Fomos comprar alguns livros. Amanhã, ele falou que vai passar na sua escola comigo pra te buscar.
-Sério?! –eu me animei.
-É, nossa, pra quem não se apaixona, você tá muito felizinha.
-Eu não posso ficar feliz? Dá pra você me deixar em paz? –pedi, irritada.
-Acho que não me querem no recinto. Vou para o meu quarto.
-Bobo. Eu vou dormir, tô cansada. Diz pra mamãe que não agüentei esperá-la. Boa noite.
-Eu digo. Boa noite.

Capítulo 7

A Catarina não estava mais implicando comigo. Talvez, por saber que meu irmão já havia me contado que ela o agarrara. Era incrível, eu a tinha nas minhas mãos. Ela tinha traído o Lucas e só eu e a Drica sabíamos disso. Coitado, pena que ele é tão tapado e não vê como a namorada dele é uma biscate. Quando saímos da aula, Daniel estava lá. Parado, de braços cruzados, em frente ao seu carro vermelho que combinava com a cor de seus cabelos. Meu irmão ejavascript:void(0)stava ao seu lado, olhando para os lados à procura de sua musa. Mas o olhar de Daniel só estava na minha direção. Eu fui andando, e quando fui dar um beijo em seu rosto, ele me envolveu em seus braços e me beijou na boca. A Drica e o Mateus ficaram um pouco sem graça e meu irmão nem percebia o que acontecia ao seu lado.
-Olá. –falou para a Drica e o Mateus.
-Esse é o Mateus e a Drica você já viu lá em casa. Gente, esse é o Daniel. –apresentei sorrindo e ele segurou minha mão.
-Olá. –falaram os dois juntos.
-Drica, eu te levo em casa. –disse Mateus.
-Vocês não querem ir com a gente? –perguntei.
-Não. Podem ir. –falou o garoto rindo.
-Eu deixo vocês em casa. –disse Daniel.
-Não precisa, eu tenho que falar com a Drica mesmo.
-Ok, então vamos indo.
Nós entramos no carro e meu irmão simplesmente ficou lá na porta da escola, parado, esperando a Thalita sair. Eu chamei o Daniel pra almoçar lá em casa e ele foi. Nós ficamos a tarde toda conversando e ele me explicou algumas coisas que eu só vou aprender ano que vem. Definitivamente, esse garoto era inteligente. Eu não tinha nenhuma dúvida disso, resolvera contas superdifíceis em apenas alguns minutos. Era tão legal estar com ele. Mas eu não sei, sentia falta de alguma coisa que não sei definir. Apenas um vazio dentro de mim. E aqueles olhos da cor do oceano voltaram a aparecer na minha cabeça. Por que eu estava pensando nele agora? Existem certas coisas da mente que são impossíveis de compreender. Aquilo estava realmente estranho. Eu estava beijando o Daniel e comecei a imaginar como seria beijar o Lucas.
-É... Acho melhor você ir, Dani... Eu estou com um pouco de dor de cabeça. –menti sorrindo.
-Então eu vou indo. A gente se fala depois, linda. –ele me deu um beijo e foi embora.
Eu não conseguia entender o que estava acontecendo na minha cabeça. De onde tinha saído aquele pensamento de beijar o Lucas Machado? Alguma coisa em mim não estava funcionando direito. Eu sabia disso. Achei melhor me deitar. Talvez, dormindo, aquelas cenas absurdas sairiam da minha cabeça. Fiquei me revirando na cama por alguns minutos e depois peguei no sono.



COMO ESSES DOIS CAPÍTULOS SÃO PEQUENININHOS, VOU POSTÁ-LOS JUNTOS :]
BEIJOOOOS E COMENTEM, POR FAVOOOOR! :]

domingo, 30 de agosto de 2009

Capítulo 5

Antes de tudo... Desculpem pelo formato. Não consegui deixar tudo certinho, com os parágrafos e tudo o mais =\


Capítulo 5

COMENTEM!



Na manhã seguinte, tivemos duas aulas seguidas de Matemática. Mas a minha felicidade acabou na hora em que a Rita entrou na sala e começou a lembrar-nos do lindo e maravilhoso trabalho. Eu passei a aula inteira fazendo os deveres de Matemática.
-Quando você vai fazer o trabalho? –perguntou Drica.
-Amanhã.
-Na casa dele?
-É...
-Passa lá em casa depois?
-Tá bom.
O sinal bateu e nós fomos para a frente da escola. Meu irmão estava do lado de fora me esperando.
-Quem é a garota? –perguntei curiosa.
-Aquela é a que eu fiquei. –falou, apontando para a Catarina.
-Não acredito!
-E aquela é a menina mais linda da sua escola.
Ele apontou para uma garota morena de olhos castanho-claros e cabelos ondulados. Era a melhor amiga de Lucas. Ela era muito bonita mesmo. E também odiava sua namorada. Eu sempre ouvia a Catarina reclamando com o Lucas sobre a Thalita.
-É a Thalita. E ela odeia a garota com quem você ficou. E a garota com quem você ficou tem namorado. –expliquei, sorrindo.
-Que confusão! Vou falar com ela.
-Vai falar o quê?
-Não sei. –ele saiu e foi em direção à menina.
Olhei para o lado. A loira estúpida estava olhando a cena com curiosidade. Lucas estava ao seu lado e não percebia nada. Como ele era lerdo! A Thalita estava dando atenção a ele. Meu irmão é o cara!
-Ela aceitou sair comigo! –contou, rindo.
-Você...Como você consegue essas coisas? –eu estava estupefata.
-Papo, maninha. Vamos embora?
Como ele conseguia fazer essas coisas com as garotas? E como ela aceitara sair com um garoto que ela acabou de conhecer? Olha quem está falando! Eu vou sair hoje com um garoto que conheci ontem. É, Lia, você não pode falar dela. Chegamos em casa e fui fazer os deveres.
-Você vai sair com o Daniel hoje? –ouvi uma voz atrás de mim perguntar.
-Como você sabe?
-Eu sei tudo, Lia.
-Ele falou?
-Claro que falou. Ele veio perguntar pra mim se tinha algum problema.
-E o que você falou?
-Eu falei que não.
-Como vocês se conheceram, se as aulas ainda não começaram? –perguntei curiosa.
-Quando fui fazer a inscrição.
-O ano mal começou e eu não agüento mais a escola. Você acredita que me passaram um trabalho de Literatura sobre amor e destino?
-Ah, Literatura é legal!
-Literatura é chata. –bufei.

A campainha tocou, eu estava pronta. Havia colocado um vestido preto com decote em V. Seu cumprimento era um pouco acima do joelho. Resolvi deixar o cabelo solto e coloquei um salto alto.
-Você está linda! –comentou Daniel ao ver-me.
-Obrigada.
-Vamos?
-Vamos.
Nós descemos de elevador e chegamos à garagem. Ele tinha um Eco Sport vermelho. Eu amava aquele carro. Abriu a porta e nós fomos a um restaurante não muito longe de casa.
-Não acredito que estou entrando em um restaurante japonês.
-Acredite.
Entramos. O lugar era pouco iluminado e bem aconchegante. Nós sentamos em uma mesa no fundo do restaurante.
-Vamos ver o que eu vou pedir pra você... –comentou, olhando atentamente o cardápio.-Por favor, me vê duas porções de camarão empanado. –pediu para o garçom.
Coitado, achando que ia me obrigar a comer alguma coisa que eu não gostasse. Eu amo camarão. Mas para não fazê-lo mudar de idéia, fiz uma cara de emburrada.
-Eu não gosto de camarão. –menti, quando o homem saiu do local.
-A gente pode pedir um Sushi então.
-Não! –exclamei.
-Você gosta de camarão. Foi por isso que eu pedi. –confessou, rindo.
-Como você sabe que eu gosto? Ah... Você foi perguntar pro Vini, não é?
-Exatamente. Menina inteligente. E só pra deixar claro, eu gostei do pão com leite condensado. –admitiu, abrindo um sorrido ainda maior.
-Você trapaceou! –eu fiz uma cara de vítima.
-Se eu falasse que tinha gostado, você não teria saído comigo. –contou, sorrindo maliciosamente.
Essa frase me deixou mais confiante. Eu sorri envergonhada e ele ficou me fitando diretamente nos olhos. Daniel levantou e se sentou ao meu lado. Eu fiquei olhando aqueles olhos grandes e verdes por alguns segundos até que ele me beijou. Confesso que foi o melhor beijo que eu já tinha dado. Ele era engraçado e eu gostava de sua companhia.
-Valeu a pena ter trapaceado? –perguntou, após descolar os lábios dos meus.
Eu assenti com a cabeça e o beijei novamente. Quando abri os olhos e olhei ao redor do restaurante, avistei Catarina e Lucas nos observando na mesa ao lado. Eles estavam no mínimo surpresos. Eu voltei a olhar para Daniel e nós ficamos conversando. Comemos e depois o garoto me deixou em casa. A noite tinha sido legal e ele era ótimo. Mas eu precisava dormir. Amanhã, o dia ia ser entediante. Entrei em casa e o Vinícius começou a encher-me de perguntas.
-Só vai entrar quando me contar. –e bloqueou a porta do meu quarto com os braços.
-Não tem nada pra contar. –tentava empurrá-lo, rindo.
-Claro que tem. Fale, Lia.
-A gente ficou. Era isso que você queria saber? –contei baixinho.
-Eu sabia que isso ia acontecer!
-Tudo bem, maioral, deixe-me dormir agora.
-Boa noite, pegadora.
-Boa noite, praga.
Eu entrei no quarto, tomei um banho rápido e fui dormir.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

CAPÍTULO 4
COMENTEM

Logo que cheguei à escola, na segunda-feira, lembrei do maldito trabalho, porque no meio da primeira aula, recebi um bilhete do Lucas que dizia: “Nós vamos ter que marcar de fazer esse trabalho. O que você acha de ir até a minha casa quarta-feira?”. Tudo bem que é por causa do trabalho, mas vê-lo me chamando para ir à casa dele é completamente estranho. Há três ou quatro dias, a gente nem se falava e agora eu já fiquei presa com ele em um elevador, já usei seu casaco e até joguei videogame com o dito cujo. Maldita seja essa professora que inventou esse trabalho! Eu juro, se não precisasse de pontos em Literatura, eu não o faria. Escrevi no papelzinho que iria para lá às 15:00 horas. Depois ele virou para trás e sorriu. Mateus olhava a cena sem acreditar no que estava vendo.

-Você e o Lucas passando bilhetinhos? Ele sorrindo pra você? –foram as primeiras perguntas que fez quando o sinal bateu.

-Mateus, ele estava falando do trabalho. Não imagine coisas. Afinal, o que você vai fazer hoje? –mudei de assunto, antes que ele começasse a falar mais besteiras.

-Ia perguntar isso a você. Preciso da sua ajuda, Lia. Pode ir comigo no shopping agora? –perguntou tão baixo que precisei ler seus lábios.

-Posso. –respondi, desconfiada. –Só tenho que avisar em casa.

-E não conta pra Drica. Por favor. –pediu, ao ver que ela estava se aproximando.

-Vamos embora?

-Não vai dar pra gente ir agora, Dri. –falou ele, rapidamente.

-Ué, por que não?

-Prometi que ia explicar umas coisas pra Lia agora, porque vou sair mais tarde. Eu ligo, Drica. –acrescentou rapidamente, antes que ela pedisse pra ficar.

Ela apenas ficou nos olhando, saiu da sala meio cabisbaixa e soltou um “tá”, desanimada.

-Acho que ela não ficou muito feliz. Qual é o segredo?

-Eu fiz um quadro, desenhei o rosto dela. Vou mandar emoldurar. –confessou, corando e colocando o cabelo atrás da orelha. A Drica era uma menina bonita, seus cabelos ondulados eram tão loiros que pareciam brancos e sua franja batia um pouco acima dos olhos. Ela tinha um rosto redondinho e parecia um bebê.

-Ela vai gostar. –falei, sorrindo. –Mateus, suas espinhas estão sumindo.

-É... Tô fazendo um tratamento.

-Eu nem consegui perceber, você não tira esse cabelo do rosto. Mas olhe, não tem quase nada. –reparei, segurando seu cabelo.

O Teus e a Drica tinham alguma coisa. Eles sempre ficavam se olhando, e ambos coravam quando falavam um no outro. Era engraçado. O aniversário dela seria na sexta-feira. E eu não tinha pensado em nada para dar de presente a ela. Quando Mateus me mostrou o quadro, eu fiquei atônita. Era simplesmente perfeito. Parecia até foto. Não tinha dúvida nenhuma de que a menina ia adorar.

Entrei em casa e meu irmão estava com um amigo jogando videogame na sala.

-Oi, Vini. –cumprimentei.

-Oi, Lia. Esse é o Daniel, ele é da faculdade. –informou, apresentando-me um garoto bonito de cabelos cor de fogo, jogados um pouco acima dos olhos. Ele tinha os olhos esverdeados, um rosto fino e um corpo bastante definido. Trajava uma blusa preta e mesmo assim era possível visualizar seus músculos. Daniel sorriu e eu apertei sua mão. Seu sorriso era divertido. Nessa hora, lembrei-me do sorriso de Lucas.

-Vou tomar um banho. –declarei, indo para o meu quarto.

Entrei, tranquei a porta, abri a torneira e me despi. Quando entrei no banho, senti a água quente caindo em meu rosto. Aquele box era o único lugar onde nenhum problema parecia conseguir entrar. Eu me desligava do mundo e conseguia relaxar.

Um tempo depois, fiquei uns dez minutos revirando o armário à procura da blusa que eu mais gostava. Ela era preta, tinha um decote um pouco maior que o normal, prendia as alças na nuca e deixava meus ombros aparecendo. Tá, eu sei que estava me arrumando demais para poder ficar em casa. Mas confesso que estava a fim de ficar com o Daniel. Ele era realmente bonito e alguma coisa me atraía. Eu não fico atrás de garotos, realmente acho que não vale a pena, mas sou mulher, gosto de homens e de beijar na boca. Eu só não acredito nessas babaquices de “eu te amo e vou ficar o resto da minha vida junto a você”. Coloquei uma calça jeans, minhas botas e me maquiei.

Quando terminei de me arrumar, fui até a sala e sentei perto deles. Tenho que admitir, ele ficou me olhando com um sorriso no canto dos lábios. Não estou me achando nem nada, mas foi isso que aconteceu.

-Que é isso hem, irmã?-brincou Vini. -Olha, eu vou tomar um banho pra gente comer alguma coisa. A mamãe falou que ia chegar tarde, hoje.

Minha mãe é advogada, então ela sempre fica presa no trabalho até mais tarde com os clientes se queixando e enchendo o saco dela. Sinceramente, eu não sei como ela agüenta, eu já os teria mandado para um lugar bem feio.

-Vou fazer uns sanduíches. –falei, indo até a cozinha.

-Eu a ajudo. –ofereceu Daniel, ao ver que ficaria sozinho na sala.

Eu peguei os pães, as facas, manteiga, presunto, queijo e leite condensado. Coloquei tudo na bancada. Ele sentou a minha frente e começou a cortar o pão.

-Você tem quantos anos, Lia? –perguntou me olhando.

-Dezesseis e você? –respondi, voltando minha atenção para o pão.

-Tenho dezoito. Nossa, você parece ter a mesma idade que eu.

-Devo aceitar isso como um elogio? –eu estava passando manteiga no pão.

-Sim. –respondeu, sorrindo.

-Você deve ser bem inteligente, Dezoito anos, cursando Faculdade de Engenharia. –comentei, jogando o presunto em cima do pão.

-Eu estou adiantado um ano e nunca repeti. Passei direto no vestibular. –explicou modestamente. –O que você está fazendo? –indagou ao ver o leite condensado sendo jogado sobre o pão.

-É bom. Experimente.

-Eu não... Essa coisa deve ser...

Eu peguei a lata e virei no pão dele, fazendo-o soltar um suspiro de desgosto.

-Sério, é bom! Prova? –pedi sorrindo.

-Tá, mas se for ruim...

-Se for ruim o quê? –quis saber, levantando a sobrancelha.

-Você gosta de comida japonesa? –perguntou, deixando-me completamente confusa.

-Não, eu odeio. Mas o que isso tem a ver?

-Bem, se eu não gostar, amanhã você vai comigo a um restaurante japonês e vai comer o que eu quiser. –especulou, abrindo um sorriso descrente de que ia perder.

-Combinado. –concordei.

Ele ia gostar, eu tinha certeza. Todo mundo que eu falava para experimentar, gostava. Por que com ele seria diferente? Mas seria bom se ele não gostasse. Nós iríamos jantar juntos. Ele mordeu o pão, mastigou e fez cara de nojo. Pegou um papel e cuspiu.

-Isso é horrível! Onde tem água?

-Na geladeira, pode pegar. Impossível que você ache tão nojento.

Ele tomou dois copos de água, sentou-se novamente a minha frente e empurrou o prato com seu sanduíche para mim.

-Pode comer. Que horas eu a pego amanhã? Oito horas?–quis saber, com um sorriso vitorioso.

-Olha, não precisamos comer comida japonesa!

-Você perdeu, vai ter que ir comigo.

-Tá, mas eu vou escolher o que eu quiser.

-Não, eu vou escolher. Nós combinamos assim. –cruzei os braços e fiquei emburrada.

-Do que vocês estão falando? –interveio meu irmão. – Pão, com leite condensado... –suspirou. –Eu não como isso há anos. Quer, Daniel?

-Não, obrigado, eu não gosto. –retrucou o ruivo, me olhando e sorrindo.

Nós estávamos conversando, quando o telefone tocou. Era a Drica pedindo para vir dormir aqui. Eu falei que não tinha problema e ela avisou que já estava chegando. Em menos de um minuto, o porteiro avisou que ela estava subindo.

-Você chegou rápido. –comentei ao abrir a porta.

-Eu saí de casa pra não matar aquela mulher! –explicou a menina, com lágrimas nos olhos.

Eu a abracei e apresentei para Daniel. Pedi licença e nós fomos para o meu quarto.

-O que ela te falou?

-Ela ficou falando um monte de coisas, eu gritei, peguei minhas coisas e vim. Não quero falar disso.

-Já falou com seu pai?

-Não... Quem é esse Daniel? –mudou de assunto.

-Um amigo do meu irmão. Nós vamos sair amanhã. –contei baixinho.

-Sério? Ele parece ser legal.

-É... Ele é. Ah, Drica, ontem eu terminei de ler um livro muito bom. Acho que você vai...

-Lia...- chamou sem dar atenção ao que eu estava falando.

-Fale.

-Eu acho que o Mateus gosta de você. –comentou, fitando o chão.

- O quê? –arregalei os olhos.

-Hoje ele quis ficar sozinho com você...E sei lá. –falou tristonha.

-Drica, nós só estudamos! Ciúmes agora?

-Não é isso... Eu só falei por falar. –respondeu com simplicidade.

-Pára de besteira. Tá com fome?

-Tô.

Nós fomos para a sala e os meninos estavam conversando sobre Matemática. Definitivamente, ele era inteligente. Quando foi embora, eu e a Drica entramos na Internet e ficamos vendo alguns vídeos.

-Eu te falei? –perguntou como se eu soubesse sobre o que ela estava falando.

-Como eu vou saber?

-O Lucas, pela primeira vez falou comigo, quando estava indo para a escola.

-Legal... Meu irmão ficou com uma menina idêntica à Catarina. Você sabe se eles terminaram?

-Não, hoje mesmo os vi de mãos dadas, passando pela portaria.



quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Capítulo 3

COMENTEM!!


A quarta e a quinta-feira passaram bem devagar. Eu estava tendo provas e era um tédio ficar estudando a mesma coisa até eu conseguir gravar. Na sexta-feira, cheguei à escola morrendo de sono e a professora de Literatura avisou que nós iríamos fazer um trabalho em dupla e estas seriam escolhidas por ela, com o intuito de “aproximar” as pessoas da sala para elas se conhecerem melhor. Ou alguma coisa do gênero. Essa professora é muito melosa e acha que todos temos que gostar das pessoas com quem convivemos. Além disso, o tema não podia ser mais boçal: amor, destino e essas coisas.
-Era só o que me faltava! –reclamei indignada, olhando para Drica. –Ela tá zoando comigo, agora ela vai levantar e dizer que minha dupla é a Catarina.
-Vire essa boca pra lá. É mais fácil você fazer um trabalho de “aprenda a matar uma patricinha em apenas cinco minutos” –brincou, tirando uma grande risada minha, chamando a atenção da Rita.
-Vamos começar pela Senhorita, Lia. Sua dupla é o Senhor... –ela fez uma pausa para olhar no diário o nome do meu “coleguinha”. –Lucas Machado.
-O quê? –indaguei, olhando incrédula para Adriana.
-Algum problema? –perguntou, olhando curiosa para mim.
-Não, nada. –respondi, me ajeitando na cadeira e olhando de canto de olho para o Lucas.
Ela foi falando os nomes das duplas. Adriana ficou com Fernando, um garoto que não é de falar com quase ninguém e as poucas pessoas com quem fala são os amigos da Catarina. O Mateus teve que fazer com a própria! Mesmo ela quase ajoelhando para que a professora a deixasse fazer o trabalho com seu namorado.
-Você não entendeu, Catarina? A intenção é vocês conhecerem as opiniões de outras pessoas que não falam muito com vocês... –explicou. –Vocês terão um mês para me entregar esse trabalho, juntando a opinião de vocês em uma redação.
-Isso vai ser um fracasso. –lamentei, arrumando meu material e jogando a mochila nas costas.
Aparentemente, meu irmão estava adorando ir me buscar na escola com o carro que a minha mãe havia comprado para ele. Não era ruim voltar de carro, mas eu morava praticamente ao lado da escola, não tinha necessidade disso. E lá estava ele, encostado no Peugeot, em frente ao portão da escola.
-Fui convidado para uma festa. –contou ao encontrar-me.
-Quem o convidou? –perguntei, entrando no carro.
-Não sei! –respondeu rindo. –Perguntei se podia levar um amigo e ela disse que sim. Você vai? –ele ligou o carro.
-Eu não sou convidada para essas festas. Deve ser na casa de alguém. Sabe, eu acho ridículas essas garotas. Elas nem te conhecem e já vão chamando para ir até à casa delas. Fala sério, você poderia ser um assassino, um tarado, sei lá.
-É... Isso é verdade. Mas eu vou, tem uma garota que eu vi saindo da escola aquele dia, ela é linda. Tem o sorriso mais perfeito que eu já vi. Vou na esperança de encontrá-la. –explicou, sorridente.
-Boa sorte com as meninas da minha escola! –declarei por fim.
-Não comece a generalizar, Lia. Esse é o seu maior defeito. Você generaliza tudo! –pediu, me olhando zangado.
-Não é isso. Eu sei que tem meninas legais lá, mas a maioria só pensa em garotos, compras e fofocas vinte e quatro horas por dia. Isso é patético! Pergunte pra algumas, se elas sabem o que é o aquecimento global. Elas vão fazer uma careta e perguntar onde se compra isso!
-Você precisa aprender a beijar na boca! –exclamou rindo e saindo do carro.
-Você acha mesmo que eu nunca fiz isso? –levantei a sobrancelha esquerda, batendo a porta do carro.
-Fez? Faz? Com qual freqüência? –questionava rindo e se aproximando de mim na medida em que fazia cada uma das perguntas.
-Não enche. –falei, rindo.
-Conte, Lia.
-Eu já fiquei com alguns garotos, mas um beijo nunca me deixou igual àquelas meninas.
-Você nunca se apaixonou, Lia. Esse é o problema.
-E nem pretendo.
-Nossa... Por que isso?
-Pra ser traída e ficar como a nossa mãe ficou? Em depressão, por causa de um homem que dizia amá-la? Amor... Como se isso existisse!
-Lá vai você generalizando novamente. Você não devia pensar assim.
Eu dei os ombros e entrei em casa.
-Olá, Andréa. O que tem pra comer hoje? –a Andréa trabalhava lá em casa há algum tempo e fazia a melhor comida do mundo. Sem ela, eu não usaria roupas limpas e a minha vida seria um inferno.
-Sua mãe falou para eu fazer um macarrão à bolonhesa. –respondeu sorrindo.
Peguei o telefone e liguei para a Drica, chamando-a para vir assistir algum filme aqui, mais tarde. Ela falou que passaria na locadora e viria pra cá depois do almoço. Espero que ela não alugue nenhum daqueles filmes que fazem a gente acreditar que tudo na vida é perfeito e que todos os problemas de fome e poluição no mundo vão acabar. Porque, hoje em dia, esses filmes só mostram finais felizes e qual é, nem sempre tudo dá certo! Até parece que os vilões na vida real se dão sempre mal. Pelo contrário, eles quase sempre conseguem se dar bem.
Mais ou menos meia hora depois do almoço, ela chegou com os DVD’s da quinta temporada de Friends e nós passamos a tarde toda rindo, porque não rir com Friends é algo que não acontece. NUNCA! A Dri falou várias vezes em como o meu irmão estava lindo e que não era possível ele não ter namorada, porque acima de tudo ele era superinteligente. E, realmente, meu irmão estava um gato! Mais tarde, nós resolvemos ligar pro Mateus e combinar alguma coisa.
-Vamos dar uma saída? Sei lá, nós podemos comer alguma coisa. –falei ao telefone.
-Lia, espera eu tomar um banho? Eu cheguei da academia agora.
-Tá, mas anda logo, nós vamos passar aí em uns quinze minutos.
-Tá bom. Beijos.

O fim de semana tinha sido legal, meu irmão tinha ido à festa na casa da Letícia. Ele disse que ficou com uma menina bem loira, de cabelos curtos, alta, de olhos castanhos e redondos. Eu achei estranho. Ele tinha ficado com a Catarina? Mas meu irmão nem perguntou seu nome. Disse apenas que a garota praticamente o agarrou.
-A única garota que eu conheço com essas características é a Catarina.
-Eu nem sei o nome dela. Fui ao banheiro e ela veio atrás de mim.
-Ela deve ter terminado com o Lucas ou sei lá. –comentei.
-Mas a menina não estava lá. A garota de quem eu te falei. –e soltou um muxoxo.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Capítulo 2

COMENTEM!

-Fiz uma prova horrível! –reclamei, jogando-me no banco ao lado dos meus amigos.

-Mas você estava sabendo tudo.

-Que saco! Logo Biologia... Mas tudo bem, eu recupero na próxima prova. Vamos embora?

-Vamos. –confirmaram os dois se levantando.

Ao deixar o pátio e sair pelo portão da escola, avistei um lindo garoto alto, com um corpo atlético. Ele tinha o cabelo preto arrepiado, os olhos amarelados, com o rosto meio quadrado e a pele bem clara. Levantei uma das sobrancelhas, me aproximei e ao perceber minha presença, abriu um sorriso imenso, mostrando seus dentes perfeitamente alinhados e alvos. Eu sorri também e corri ao seu encontro, pulando em cima dele e abraçando-o o mais forte que conseguia.

-Lia, que saudades de você, irmãzinha. –falou Vinícius, sorrindo.

-Vinícius, que saudades! Como você tá lindo! Deixa eu te apresentar pro Mateus e pra Drica? –pedi, com lágrima nos olhos.

Eles haviam se aproximado, quando eu saí correndo. Eu os apresentei ao meu irmão com o maior orgulho. Como era bom tê-lo comigo depois de quatro anos! Eu e ele sempre fomos muito apegados quando éramos crianças, mas ele saiu de casa quando tinha quinze e foi morar com uma das irmãs da minha mãe que estava se mudando pra Santa Catarina. Depois disso, nós nos encontramos poucas vezes.

Voltamos pra casa juntos, conversando e quando chegamos, nossa mãe estava fazendo um macarrão, tinha um bolo grande de chocolate em cima da mesa e vários balões espalhados pelo apartamento. Dei um risinho ao entrar em casa e observá-la cantarolando. Eu nunca a tinha visto tão feliz. Sentamos à mesa e ela agradeceu por Vinícius ter voltado. Ele também estava feliz, não parava de sorrir nem por um segundo.

-Diz pra mim que isso não é um sonho! –exclamou minha mãe, com lágrima nos olhos.

-Não é, mãe. –afirmou, sem parar de sorrir.

Enquanto eu ajudava meu irmão a desfazer as malas, ele se sentou na cama e me olhou triste.

-O que aconteceu?

-Eu fui irresponsável. Não podia ter deixado você sozinha com a mamãe quando nosso pai nos abandonou. Eu fiz a mesma coisa que ele e vocês precisaram de mim.

-Olha, eu também acho que nós precisamos de você, mas não há mais nada a se fazer agora. Ela se recuperou, você está entrando na faculdade. Não poderia estar melhor. –falei sorrindo.

-Desculpe-me. Eu era criança, estava com raiva. Só consegui entender a situação depois. –explicou com lágrimas nos olhos.

-Tudo bem... Mas me conta da Luiza.

-Terminei. Ela tinha um ciúme doentio e quando soube que eu vinha morar aqui, falou que não ia aceitar. Aí eu falei que não dava mais. Acho que nunca a amei... Mas e você? –perguntou curioso.

-Eu? Eu tenho que ir... Depois nós conversamos.

-Até mais tarde então.

Peguei o casaco do Lucas, coloquei na mochila e fui até o prédio da Drica. Passei na casa dela e devolvi a roupa que tinha me emprestado ontem e fiquei um tempo conversando. Eu estava parecendo uma entregadora de roupas. Quando estava saindo, ela se lembrou de me entregar o cordão que eu havia deixado lá. Joguei na bolsa junto ao casaco, entrei no elevador e apertei o seis.

No corredor havia três apartamentos. Toquei no primeiro e perguntei se era a casa do Lucas. Uma meiga senhora me disse que ele morava ao lado dela. Agradeci e toquei a campainha. Uma mulher negra e bem alta atendeu a porta.

-Olá, o Lucas está? Eu sou uma colega da escola...

-Sim, ele está no quarto. Pode entrar. É a última porta à esquerda. –indicou sorrindo.

-Obrigada. –falei, olhando ao meu redor.

A casa era linda, tudo estava em seu devido lugar. Os quadros eram perfeitos. Ouvi um cachorro latindo e vindo para perto de mim. Era um Cocker Spaniel caramelo e de olhos azuis. Ele ficou tentando pular em cima de mim, enquanto andava pelo corredor. Bati na porta e o ouvi pedindo para entrar.

-Oi! –exclamou ele, deixando o controle do videogame cair no chão.

-Eu vim entregar o casaco, desculpa não ter avisado antes... –comecei.

-Ah não faz mal. Tá com sede? –perguntou levantando.

-Não, não. Obrigada.

-Sente aí, eu vou pegar alguma coisa pra você beber. –avisou, ignorando completamente o meu “não, não, obrigada”.

Ele voltou com um copo de Coca-Cola e entregou para mim. Eu dei um gole e o coloquei em cima da mesa do computador. Abri a mochila e tirei o casaco, deixando meu cordão cair no chão. Ele se abaixou pra pegar e eu fiz o mesmo. Quando se levantou, bateu com a cabeça no meu nariz.

-Oh, meu Deus! –gritou o garoto assustado.

-Tudo bem. Não foi nada. –disse, massageando o nariz.

-Eu vou pegar gelo.

-Não precisa, eu tô bem. –sorri.

-Desculpe. –pediu. –Posso colocar o cordão? –eu virei de costas para ele e segurei o rabo de cavalo para ele encaixar o fecho.

-Sabe jogar? É de luta. –perguntou, apontando para o jogo.

-Acho que posso vencer uma vez. –falei, segurando o controle.

Ele iniciou o jogo e comecei a apertar qualquer botão. Um minuto depois, o meu jogador estava todo ensangüentado, caído no chão com estrelinhas serpenteando sua cabeça.

-Você tem que apertar esses dois botões aqui detrás. –e colocou meus dois dedos indicadores sobre o botão. –Aperte o xis com o polegar direito e o polegar esquerdo na setinha para a direita. -prosseguiu. –No círculo, você chuta; no triângulo, você pula e no xis você soca. Entendeu?

Joguei mais umas seis vezes com ele e, na última vez, meu jogador golpeou o dele tantas vezes que foi a nocaute.

-Nada como um bom professor... –vangloriou-se.

-Eu sou boa, admita! –falei, rindo. –Acho melhor eu ir.

Ele sorriu e me acompanhou até à porta.

-Tá ficando escuro, quer que eu te leve em casa?

-Não precisa, eu moro aqui perto.

-Vou pegar meu casaco. –novamente me ignorando.

Ele pegou o casaco, vestiu e chamou o elevador. Fiquei o tempo todo admirando minhas botas. Enquanto íamos caminhando, resolvi perguntar o que estava me incomodando.

-Por que você tem sido legal comigo? –ele parou e fiz o mesmo, olhando em seus olhos.

-Eu não a conhecia, eu tô vendo que você não é nada do que eu pensava.

-E o que você pensava? -perguntei, mesmo já sabendo a resposta.

-Que você era fria, grossa e não gostava de ninguém... –descreveu, com um pouco de vergonha.

-É o que a maioria pensa. –falei, dando os ombros e voltando a andar.

-Mas você é totalmente o contrário. –falou, sorrindo.

Seu sorriso era algo perfeito, seus dentes eram brancos e certinhos, era diferente de todos os outros. Ele realmente me deixava perturbada, tinha um pouquinho de sarcasmo, diversão e malícia. Eu nunca havia visto um sorriso tão... Completo!

-Você tem namorado, Lia? –perguntou, tossindo.

-Não. Chegamos. –falei, parando na frente do meu prédio.

-Então até amanhã. –e, sorrindo, me deu um beijo estalado no rosto.

N.A.// Ai gente, eu sei que ta com um super espaço, mas esse blog ta uma porcaria, então eu não consigo colocar direitinho.
E esse cap. é bem pequeno mesmo.
Enfim, muito obrigada pelos comentários. De verdade.
Eu fico muito feliz com eles. E fico muito feliz também por você estar lendo.
Beijos!

domingo, 24 de agosto de 2008

Capítulo 1

Capítulo 1 - COMENTEM!

Eu não teria percebido que já estava de manhã, mas o meu despertador fez questão de tocar, avisando-me que já era hora de ir para a escola. Tentei quebrá-lo, arremessando-o contra a parede, mas isso é sempre um ato ineficaz, porque ele continua emitindo aquele som insuportável.

Levantei-me da cama, ainda sonolenta, coloquei minha calça jeans que estava sobre a poltrona e fui desligar o maldito relógio. Abri o armário e rapidamente localizei minha blusa do uniforme, afinal, era praticamente a única roupa branca no armário. Eu fico me perguntando o porquê das escolas falarem que os uniformes são tão importantes para a disciplina. Na minha opinião, eles só querem fazer propaganda da escola, enquanto nós caminhamos pelas ruas. Calcei minhas botas, botei um casaco preto por cima da camisa e fui para o banheiro. Escovei os dentes e passei o lápis ao redor dos olhos. Prendi o cabelo em um rabo de cavalo e fui para a cozinha.

-Bom dia, mãe. –falei, sentando-me à mesa.

-Vai querer pão? –perguntou, esticando o pacote para mim.

Minha mãe é o tipo de pessoa com a aparência mais normal do mundo. Cabelo loiro até os ombros, olhos castanhos e ela sempre usa calças jeans e regatas quando não está no trabalho. Enfim, ela não tem nada que se possa chamar de diferente.

-Não, eu só vou tomar café. Eu como alguma coisa na escola.

Virei a xícara e tomei o café de uma vez só. Peguei a mochila e fui saindo de casa. Eu moro a duas quadras da escola e, todos os dias, passo pela casa da Adriana para nós irmos juntas. Felizmente, ela é uma das poucas meninas de lá que não pensa em garotos vinte e quatro horas por dia.

-Oi, Drica! Bom dia. –cumprimentei, ao encontrá-la parada em frente ao seu prédio.

-Só se for pra você! Briguei com a Tereza de novo. –contou, olhando o chão.

Pude perceber que ela havia chorado a noite toda. Mesmo disfarçados com uma forte maquiagem preta, seus olhos estavam inchados e vermelhos.

-O que a sua mãe aprontou dessa vez? –perguntei, suspirando.

A Drica tem sérios problemas com a sua mãe. Ela morava com o seu pai, e a Tereza os havia abandonado, porque recebera uma oportunidade de trabalho na Califórnia. Ainda não sei como, mas ela conseguiu provar que não tinha tido chances de vir para o Brasil nesse meio tempo e conseguiu a guarda da Drica. O que eu acho um absurdo! Qual é, ela deixa os dois sozinhos e um belo dia retorna, destruindo uma família, a qual ela deixou por livre e espontânea vontade?

-O meu pai, Lia!Ligou a semana toda e ela não me deu nenhum recado. Ele me ligou mais de dez vezes de Londres, pra saber se eu queria que ele trouxesse uns CD’s pra mim e pra saber como eu estava e eu só descobri isso ontem. –gritou com raiva, chamando a atenção de algumas pessoas que passavam pela rua.

-Fique calma. Quanto mais você mostrar pra ela que sente falta do seu pai, mais ela vai te encher. Olhe, amanhã nós temos teste, vê se não se estressa com essas coisas, porque senão a coordenadora vai ficar no seu pé de novo.

Como eu desprezo algumas pessoas que estudam na minha escola! Eles não passam de um bando de fúteis. Pra alguns, o mundo se passa naquele colégio e tudo gira em torno deles. Parados, em frente à porta, estavam Catarina e seus “amigos”. Eu não consigo entender qual é a graça que eles acham em perturbar as pessoas. Sinceramente, isso é coisa de gente que não tem o que fazer... Se ao menos eles usassem essa vontade imensa que eles têm de azucrinar os alunos em prol de uma campanha beneficente, garanto que muitas pessoas seriam ajudadas. Ao notar nossa presença, eles vieram em nossa direção.

-Ah, ela está chorando... –começou a falar, fazendo biquinho.

-O que aconteceu com você? Está se sentindo excluída? –zombou Letícia, uma garota nada bonita e de cabelos lanzudos e lábios grandes.

-Vocês podem nos dar licença? –pedi, com o restinho de educação que eu ainda tinha.

Elas deram um risinho e ficaram nos olhando. Entrei na sala com Drica nos meus calcanhares. Ao avistar-nos, Mateus veio correndo falar com a gente. Mateus é um garoto incrível. Ele é meio desajeitado, usa aparelho, tem o cabelo repartido ao meio e batendo no queixo. Usa uns óculos estranhos e redondos e faz os desenhos mais perfeitos que já vi em toda a minha vida.

-Oi, Teus. –falamos em uníssono, sorrindo.

-Ganhei o concurso! –gritou animado, dando um sorriso de orelha a orelha.

Nem tive tempo de abrir a boca, Drica deu um pulo e se jogou em seus braços, mas ao dar-se conta disso voltou ao seu lugar. O concurso era muito importante pra ele e o prêmio era um curso de desenho com o melhor desenhista da cidade.

-É...Parabéns... –murmurou a garota, corando e olhando para o chão, envergonhada.

-Eu sabia que você conseguiria. –agora foi minha vez de abraçá-lo. - Ninguém desenha melhor que você!

-Obrigado, meninas. Eu estou realmente feliz. Esse curso vai me ajudar muito.

A professora de Biologia já estava em pé, esperando para começar a aula. Uma magra senhora de cabelos castanhos e olhos opacos. Ela era engraçada e sempre tentava ajudar os alunos da melhor maneira possível.

-Bom dia! –cumprimentou, sorrindo. –Como nós estávamos falando na aula passada, a energia é fundamental para o metabolismo...

-Eu vou ficar de recuperação em Biologia. –lamentou-se Drica, um tempo depois.

-Relaxa, a gente pode estudar junto hoje. O que vocês acham? –sugeriu Mateus.

-Por mim, tudo bem. –falei olhando para eles.

-Então, hoje, lá em casa, às 14:00h. –avisou Adriana, virando-se para copiar o que a professora começava a escrever no quadro.

As três primeiras aulas passaram rápidas, mas as outras duas de história foram insuportáveis. História é a pior matéria na escola. Eu não gosto de ficar aprendendo sobre as coisas que passaram e ficar vendo as injustiças e as coisas absurdas que faziam contra as mulheres, os judeus, etc. Fala sério, quem vive de passado é museu. Algumas coisas até são importantes, mas isso não vem ao caso. História é intragável!

Cheguei a casa morrendo de fome, era possível ouvir o barulho da minha barriga, do primeiro andar do prédio, levando em consideração que eu moro no décimo.

-Mãe, hoje eu vou estudar na casa da Drica. –comentei, cortando um pedaço da lasanha.

O telefone tocou e eu disparei para atendê-lo.

-Alô?

-Lia, é o Mateus... Você quer que eu passe aí, para nós irmos juntos?

-Ah, Teus... Vai indo. Eu vou me atrasar um pouquinho. –disse, lembrando-me que teria de imprimir o trabalho de Inglês.

-O.k. Nos vemos lá então. –e desligou.

Fui para o meu quarto e imprimi o trabalho. Aproveitei para ver os meus e-mails e percebi que chegara um do meu irmão, de alguns dias atrás.

“E aí, maninha? Tenho ótimas notícias! Lembra que eu tentei vestibular aí? Então... Eu passei pra faculdade de Engenharia do Rio e já estou chegando por aí. Avise à mamãe. Te amo. Vinícius”.

-Mãe! –soltei um berro; e ela veio correndo saber o que estava acontecendo.

-O que houve? –quis saber, preocupada.

-O Vinícius está voltando! Ele passou na faculdade e vem morar aqui! –contei sorrindo e ela me abraçou.

-Graças a Deus! Não acredito que ele vai voltar. –ela já estava com os olhos marejados e falava vagarosamente.

-Eu também estou feliz. –falei, abraçando-a. –Olha, mãe, eu tenho que ir agora. À noite, nós ligamos pra ele, tá bem? –e ela confirmou com a cabeça, limpando as lágrimas.

Troquei de blusa e, ao olhar pela janela, percebi que começava a chuviscar. Coloquei um casaco e fui andando em direção à casa da Drica. A chuva foi ficando cada vez mais forte e, assim que cheguei ao prédio, já estava completamente molhada. Entrei no elevador e apertei o quatorze, mas ele parou no sexto andar e, quando abriu a porta, eu dei de cara com o Lucas, namorado da Catarina. Aquele que estava sempre ao seu lado quando ela ia implicar comigo.

-Tá subindo. –falei, na esperança de fazê-lo esperar o outro elevador.

-Ah, tudo bem! –e entrou, parando ao meu lado.

Quando passávamos pelo décimo primeiro andar, o elevador fez um ruído alto, parou e a escuridão tomou conta do lugar. Uma pequena luz de emergência acendeu, deixando o ambiente fracamente iluminado.

-Ótimo! –sussurrei com raiva, chutando o chão.

Lucas pegou o interfone e notou que estava quebrado.

-É, acho que vamos ter que esperar a luz voltar. –lamentou o garoto sentando-se no chão.

Eu fiz o mesmo, ainda irritada. Cruzei os braços tentando me aquecer. O único som que podíamos ouvir era o dos meus dentes batendo de frio. Como eu estava me amaldiçoando por ter deixado o meu celular em casa. Como eu odiava ter que dividir o mesmo ar que ele.

-Você está encharcada!

-E você é realmente incrível em adivinhações. –comentei, ironicamente, abraçando meus joelhos.

-Você é muito engraçada. Vamos, tire essa roupa, eu te empresto meu casaco. –ofereceu, tirando-o do corpo e entregando a mim.

Isso era realmente estranho. Eu não ia trocar de roupa na frente dele. Onde já se viu? Mas eu estava com tanto frio... Ainda relutante, tirei o meu casaco e ele se virou para eu poder tirar a blusa. Como era bom colocar aquele casaco que parecia incrivelmente quente ao entrar em contato com a minha pele gelada.

-Obrigada. –agradeci, tentando soltar a presilha do meu cabelo.

-Acho que nunca a vi de cabelo solto. –comentou me observando. –Fica mais bonito assim.

Eu dei um sorriso torto e agradeci novamente. Era esquisito vê-lo puxando conversa, ele sempre estava “apoiando” sua namorada em todas as brincadeiras que ela fazia comigo.

-Acho que você não gosta muito de mim, não é?

-Seu dom é incrível, você realmente devia entrar para a carreira de vidente! É sério.

-É a minha namorada que não gosta de você. Eu não tenho nada a ver com isso. –explicou se aproximando. -Eu já pedi várias vezes pra ela te deixar em paz.

-Acho que o que você fala não conta muito pra ela, não é? –completei, dando um sorriso sarcástico.

O celular dele tocou e eu ouvi uma voz esganiçada gritando do outro lado da linha.

-Amor, eu estou preso no elevador. –disse, calmamente.

Como ele podia ter um telefone e não ter tentado nos tirar dali?

-Ela desligou. –comentou tristonho.

-Posso usar seu celular? –pedi, esticando a mão.

Como ele era lerdo!

-Claro.

-Drica, eu estou presa no elevador do seu prédio há uns quinze minutos. Dá pra você pedir a alguém pra me tirar daqui?

-Ah, a sua amiga que estava chorando hoje, mora aqui. Não estava me lembrando. –eu revirei os olhos.

Mas não precisou a Drica ligar pra nenhum porteiro, porque a luz tinha acabado de voltar.

-Até que enfim. –louvei, levantando-me.

-É... Acho que é o seu andar. Depois você me entrega o casaco. –falou o loiro me lembrando que eu usava sua roupa assim que o elevador parou no quatorze.

-Acho melhor você ir de escada. –sugeri, abrindo a porta.

-Boa idéia. A gente se vê então... –e estendeu a mão, eu apertei e repeti sua última frase.

Ele foi para um lado e eu para o outro. Apertei a campainha e ouvi os passos de Drica vindo abrir a porta.

-Acho que você pegou uma chuva... Que roupa é essa? –perguntou, olhando absorta para o casaco azul claro com uma grande estampa da Billabong no meu corpo.

-É do Lucas Machado –respondi, entrando e indo em direção ao quarto.

-É de quem? –indagou, arregalando os olhos.

-Oi, Mateus. Vocês já começaram? –perguntei, ignorando-a completamente.

-O que você está fazendo com a roupa dele? –insistiu Drica, parando na minha frente.

-De quem? –foi a vez de Mateus perguntar.

-Eu fiquei presa no elevador com o Lucas Machado e como eu estava toda molhada, ele me emprestou o casaco. –contei, cruzando os braços.

-Foi só isso? –perguntou desconfiada.

-Ah, Adriana, não me faça rir, certo? Nós vamos estudar ou não? –resmunguei.

Nós passamos a tarde toda estudando e quando a Tereza chegou, resolveu nos levar para o Outback. Liguei para casa e avisei a minha mãe que ia demorar e que podia ir dormir tranqüila. Drica me emprestou uma roupa e nós fomos.

-Ela está fazendo isso, porque eu estou com raiva dela. –explicou Drica, enquanto estávamos comendo e sua mãe tinha ido ao banheiro.

-Dri, isso é um sinal de que ela sabe que errou. –falou Mateus.

A Tereza sempre nos tratou muito bem, mas eu não gostava das coisas que fazia em relação à Drica e ao pai dela. E o modo como tirou a filha do Sr. Carlos não foi nada amigável. A pessoa mais importante na vida da Drica era o seu pai e quando ela conseguiu o que queria, suas chances de reconquistar a garota ficaram mínimas.

Cheguei a casa por volta das 23:00 horas. Minha mãe já estava dormindo e achei melhor não acordá-la. Debrucei na janela do meu quarto e fiquei olhando as estrelas. A cena do elevador passou na minha cabeça e eu fiquei pensando no porquê dele ter falado comigo. Sabe... Era bem fora do normal seu repentino interesse em conversar comigo. E eu ainda estava com o seu casaco, que exalava um cheiro muito bom.