quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Capítulo 3

COMENTEM!!


A quarta e a quinta-feira passaram bem devagar. Eu estava tendo provas e era um tédio ficar estudando a mesma coisa até eu conseguir gravar. Na sexta-feira, cheguei à escola morrendo de sono e a professora de Literatura avisou que nós iríamos fazer um trabalho em dupla e estas seriam escolhidas por ela, com o intuito de “aproximar” as pessoas da sala para elas se conhecerem melhor. Ou alguma coisa do gênero. Essa professora é muito melosa e acha que todos temos que gostar das pessoas com quem convivemos. Além disso, o tema não podia ser mais boçal: amor, destino e essas coisas.
-Era só o que me faltava! –reclamei indignada, olhando para Drica. –Ela tá zoando comigo, agora ela vai levantar e dizer que minha dupla é a Catarina.
-Vire essa boca pra lá. É mais fácil você fazer um trabalho de “aprenda a matar uma patricinha em apenas cinco minutos” –brincou, tirando uma grande risada minha, chamando a atenção da Rita.
-Vamos começar pela Senhorita, Lia. Sua dupla é o Senhor... –ela fez uma pausa para olhar no diário o nome do meu “coleguinha”. –Lucas Machado.
-O quê? –indaguei, olhando incrédula para Adriana.
-Algum problema? –perguntou, olhando curiosa para mim.
-Não, nada. –respondi, me ajeitando na cadeira e olhando de canto de olho para o Lucas.
Ela foi falando os nomes das duplas. Adriana ficou com Fernando, um garoto que não é de falar com quase ninguém e as poucas pessoas com quem fala são os amigos da Catarina. O Mateus teve que fazer com a própria! Mesmo ela quase ajoelhando para que a professora a deixasse fazer o trabalho com seu namorado.
-Você não entendeu, Catarina? A intenção é vocês conhecerem as opiniões de outras pessoas que não falam muito com vocês... –explicou. –Vocês terão um mês para me entregar esse trabalho, juntando a opinião de vocês em uma redação.
-Isso vai ser um fracasso. –lamentei, arrumando meu material e jogando a mochila nas costas.
Aparentemente, meu irmão estava adorando ir me buscar na escola com o carro que a minha mãe havia comprado para ele. Não era ruim voltar de carro, mas eu morava praticamente ao lado da escola, não tinha necessidade disso. E lá estava ele, encostado no Peugeot, em frente ao portão da escola.
-Fui convidado para uma festa. –contou ao encontrar-me.
-Quem o convidou? –perguntei, entrando no carro.
-Não sei! –respondeu rindo. –Perguntei se podia levar um amigo e ela disse que sim. Você vai? –ele ligou o carro.
-Eu não sou convidada para essas festas. Deve ser na casa de alguém. Sabe, eu acho ridículas essas garotas. Elas nem te conhecem e já vão chamando para ir até à casa delas. Fala sério, você poderia ser um assassino, um tarado, sei lá.
-É... Isso é verdade. Mas eu vou, tem uma garota que eu vi saindo da escola aquele dia, ela é linda. Tem o sorriso mais perfeito que eu já vi. Vou na esperança de encontrá-la. –explicou, sorridente.
-Boa sorte com as meninas da minha escola! –declarei por fim.
-Não comece a generalizar, Lia. Esse é o seu maior defeito. Você generaliza tudo! –pediu, me olhando zangado.
-Não é isso. Eu sei que tem meninas legais lá, mas a maioria só pensa em garotos, compras e fofocas vinte e quatro horas por dia. Isso é patético! Pergunte pra algumas, se elas sabem o que é o aquecimento global. Elas vão fazer uma careta e perguntar onde se compra isso!
-Você precisa aprender a beijar na boca! –exclamou rindo e saindo do carro.
-Você acha mesmo que eu nunca fiz isso? –levantei a sobrancelha esquerda, batendo a porta do carro.
-Fez? Faz? Com qual freqüência? –questionava rindo e se aproximando de mim na medida em que fazia cada uma das perguntas.
-Não enche. –falei, rindo.
-Conte, Lia.
-Eu já fiquei com alguns garotos, mas um beijo nunca me deixou igual àquelas meninas.
-Você nunca se apaixonou, Lia. Esse é o problema.
-E nem pretendo.
-Nossa... Por que isso?
-Pra ser traída e ficar como a nossa mãe ficou? Em depressão, por causa de um homem que dizia amá-la? Amor... Como se isso existisse!
-Lá vai você generalizando novamente. Você não devia pensar assim.
Eu dei os ombros e entrei em casa.
-Olá, Andréa. O que tem pra comer hoje? –a Andréa trabalhava lá em casa há algum tempo e fazia a melhor comida do mundo. Sem ela, eu não usaria roupas limpas e a minha vida seria um inferno.
-Sua mãe falou para eu fazer um macarrão à bolonhesa. –respondeu sorrindo.
Peguei o telefone e liguei para a Drica, chamando-a para vir assistir algum filme aqui, mais tarde. Ela falou que passaria na locadora e viria pra cá depois do almoço. Espero que ela não alugue nenhum daqueles filmes que fazem a gente acreditar que tudo na vida é perfeito e que todos os problemas de fome e poluição no mundo vão acabar. Porque, hoje em dia, esses filmes só mostram finais felizes e qual é, nem sempre tudo dá certo! Até parece que os vilões na vida real se dão sempre mal. Pelo contrário, eles quase sempre conseguem se dar bem.
Mais ou menos meia hora depois do almoço, ela chegou com os DVD’s da quinta temporada de Friends e nós passamos a tarde toda rindo, porque não rir com Friends é algo que não acontece. NUNCA! A Dri falou várias vezes em como o meu irmão estava lindo e que não era possível ele não ter namorada, porque acima de tudo ele era superinteligente. E, realmente, meu irmão estava um gato! Mais tarde, nós resolvemos ligar pro Mateus e combinar alguma coisa.
-Vamos dar uma saída? Sei lá, nós podemos comer alguma coisa. –falei ao telefone.
-Lia, espera eu tomar um banho? Eu cheguei da academia agora.
-Tá, mas anda logo, nós vamos passar aí em uns quinze minutos.
-Tá bom. Beijos.

O fim de semana tinha sido legal, meu irmão tinha ido à festa na casa da Letícia. Ele disse que ficou com uma menina bem loira, de cabelos curtos, alta, de olhos castanhos e redondos. Eu achei estranho. Ele tinha ficado com a Catarina? Mas meu irmão nem perguntou seu nome. Disse apenas que a garota praticamente o agarrou.
-A única garota que eu conheço com essas características é a Catarina.
-Eu nem sei o nome dela. Fui ao banheiro e ela veio atrás de mim.
-Ela deve ter terminado com o Lucas ou sei lá. –comentei.
-Mas a menina não estava lá. A garota de quem eu te falei. –e soltou um muxoxo.