sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

CAPÍTULOS 6 E 7

Capítulo 6

Eu estava me arrumando para ir até à casa do Lucas. Coloquei uma calça jeans e uma blusa roxa de manga comprida. Peguei minha mochila com o livro de Literatura, coloquei nas costas e fui até o prédio. Chegando lá, apertei o sexto andar e fiz o mesmo trajeto de uns dias atrás. A mesma mulher atendeu a porta com um grande sorriso na boca. Eu perguntei sobre o Lucas e ela pediu para eu esperar na sala que ele já estava vindo. Uns cinco minutos depois, o garoto apareceu com o cabelo molhado e despenteado. Trajando uma blusa normal, branca e uma bermuda azul repleta de flores havaianas.
-Tudo bom, Lia? –perguntou, dando dois beijinhos nas minhas bochechas.
-Tudo e com você?
-Também. Vamos tentar adiantar alguma coisa então? –ele se sentou no sofá e pegou um caderno e um lápis.
-Vamos. –eu fiz o mesmo.
-Nós temos que falar de amor e destino... –começou.
-Pois é...
-Diz pra mim o que você acha de amor e depois eu digo. Aí, nós juntamos nossas opiniões. Pode começar. –ele se preparou para escrever.
-Eu não acredito no amor. –afirmei, escrevendo essa frase ao lado do meu nome.
-Não acredita? –ele deu um risinho. -Como assim?
-Não acredito, oras. Eu não acho que haja amor entre um homem e uma mulher. –comentei simplesmente.
-Espera aí. Por que não? –ele estava intrigado.
-Eu não acho que existe. Amor é uma invenção capitalista, é um sentimento inventado para nos fazer comprar, gastar.
-Do que você está falando?
-Olha, sinceramente, eu acho que as pessoas são egoístas demais para amar. Elas só pensam em si mesmas, só ligam para as suas vidas. O que existe hoje em dia é interesse e não amor. O ser humano se diz capaz de amar, mas eles nem sabem o que é isso. O que existe entre um homem e uma mulher é atração.
-Você não sabe do que está falando. Claro que o amor existe. Você sabe que existe, quando você o sente.
-As pessoas não sabem amar ninguém além delas mesmas. –respondi, com simplicidade.
-Ah, então uma mãe não pode amar o seu filho? –arqueou a sobrancelha.
-Não disse isso. Estou falando entre homens e mulheres, afinal, o trabalho é sobre isso, não é mesmo?
-Você foi traída pra ser tão revoltada assim?
-Não. Eu só tenho os olhos bem abertos.
-Vai ser impossível fazer isso! Você não diz coisa com coisa. Como alguém pode não acreditar no amor?
-Cada um acredita no que quer.
-Eu sei, mas você não deveria se fechar assim. Você já amou alguém?
-Não, porque amor não existe! –eu estava ficando irritada. -As pessoas confundem paixão com amor.
-Você nunca amou e por isso acha que não existe.
-Não tem nada a ver.
-Claro que tem. Por que você começou a achar que não existia? –perguntou curioso.
-Nada. –fiquei em silêncio. -Simplesmente percebi com o tempo como as pessoas são. Amor é uma palavra muito irreal.
-Não é só porque você nunca amou alguém que as outras pessoas não podem amar.
-Você não vai me convencer. –avisei.
-Como você pretende fazer esse trabalho, se discordamos completamente de tudo? –perguntou interessado.
-Não sei. –falei, olhando em seus olhos.
-Ótimo! –ele jogou a cabeça para trás. –Você é muito cabeça dura.
-Eu? Eu não sou obrigada a ter a mesma opinião que você.
-E seu namorado? Você não ama o seu namorado não?
-Não! E eu não tenho namorado. –respondi obviamente.
-E aquele garoto com você ontem no restaurante?
-Ele não é meu namorado.
Ele ficou sem respostas, apenas me olhando. Estávamos em silêncio.
-Não sei como nós vamos fazer esse trabalho. Eu estou com dor de cabeça. Vamos dar uma volta e ver se entramos em um acordo?
-Pode ser. –respondi, indiferente, passando a mão na cabeça do cachorro que tentava pular no meu colo.
Não que eu estivesse a fim de brigar com ele, mas simplesmente era impossível alguém me convencer de que o amor realmente existia. Eu sabia exatamente que aquilo era uma invenção do ser humano para ele não se sentir como realmente é: egoísta. Não que eu não ache que as pessoas possam se gostar, elas podem, mas amor é um termo muito forte para o que uma mulher sente por um homem. Nós sentamos em um banco de uma pracinha, não muito longe de sua casa e ficamos ali parados, olhando um casal com seus filhos.
-Você acha que os dois não se amam? –perguntou sem tirar os olhos da família.
-Não, sinceramente, eu não acho.
-Olha como eles estão felizes! –exclamou apontando.
-Quem te garante isso? Que te garante que eles só estão juntos por algum outro motivo? Você nem os conhece.
Ele bufou irritado.
-Olha, eu não quero discutir. Talvez seja melhor deixarmos esse trabalho pra depois. –falei, olhando em seus olhos.
E que olhos lindos que ele tinha! Era de um verde tão profundo que era possível se perder dentro deles. E não era um olhar qualquer, era um olhar voluptuoso e seguro. Se você chegasse mais perto, conseguiria ver algumas ramificações azuis. Ele também me fitava, enquanto estava analisando-o.
-Tudo bem... –respondeu, sem tirar os olhos dos meus.
Aquilo estava ficando constrangedor, mas eu não sei o porquê, era bom ficar ali parada, sentindo a brisa bater no meu rosto e olhando minha imagem refletida naqueles grandes olhos da cor do mar.
-Está tentando descobrir o que eu estou pensando? –indagou, sorrindo.
-Talvez.
-Eu não acho que vá conseguir...
-Não? Eu já consegui. –avisei, olhando para o outro lado.
-Mesmo? Então o que eu estava pensando? –perguntou, curioso, se inclinando para mais perto de mim.
-Que eu sou louca por não acreditar em amor. –respondi, olhando para ele novamente.
-Errado. –abriu um sorriso ainda maior.
-Então, sobre o que estava pensando?
-Em como seus olhos são bonitos. –admitiu, olhando para o chão.
Certo, meus olhos são bem legais, eu realmente gosto deles. São bastante pretos e têm algumas pintinhas azuis que você só percebe quando chega muito perto. Até agora ninguém tinha percebido, não que eu saiba.
-É, os seus também são. –comentei, sorrindo.
-Obrigado.
-Parecem o céu... –percebeu, ficando com o rosto bem próximo ao meu, analisando-os.
-Por quê? –perguntei curiosa.
-Ele é preto e isso me lembra o céu e tem algumas manchinhas azuis que parecem as estrelas.
Ok, essa frase realmente me assustou. Como assim, ele tinha percebido? Nem a Drica e o Mateus, que eram meus amigos desde que me entendo por gente, sabiam disso. E o jeito como ele falou fez com que eu me arrepiasse, mas talvez fosse só o vento que estava batendo. É. Definitivamente, era o vento. Desviei o olhar, tentando quebrar a tensão que estava entre nós.
-Acho melhor irmos embora... –falei, levantando-me.
-É... Acho... Vamos. –ele pareceu um pouco surpreso, mas fez o mesmo e me seguiu.
-Acho que podemos fazer um tipo de debate na redação. Primeiro você defende o que acha e depois eu faço isso. –comentei no caminho.
-Mas vamos desmentir o que falamos no início.
-É, não tinha pensado nisso.
-Aaaaaaah, isso vai ser impossível!

O dia passou e nós não tivemos nenhuma ideia para fazer o trabalho. Eu cheguei em casa, não vi nenhum ser vivo e fui direto para o meu quarto. Ótimo, agora eu estava com aquele loiro na minha cabeça e, simplesmente, não saía. Por que ele era tão irritante com esse assunto? Parecia ser um defensor do amor. Como se ele fosse amado! Até parece que aquele monstro da namorada dele era capaz de amá-lo. Peguei o telefone e liguei pra Drica.
- Ué, já tá em casa? –ela perguntou assim que atendeu.
-Pois é, eu fui caminhar com o Lucas pra ver se tínhamos alguma idéia e acabei voltando pra casa direto.
-E então? Fizeram alguma coisa? –quis saber curiosa.
-Não! Por incrível que pareça, ele é um romântico e vai ser impossível fazermos uma redação juntos.
-Não brinca?! Logo você que não acredita nessas coisas foi pegar uma dupla assim? É, você não tem sorte.
-Pois é, mas enfim, você já decidiu o que nós vamos fazer sexta? –mudei de assunto.
-Acho que vamos pra casa do meu pai. Ele vai comprar um bolo ou sei lá.
-Certo. Vou tomar um banho. A gente se fala amanhã. Beijo.
-Beijo.

Eu entrei no banheiro e fiquei parada em frente ao espelho, observando meus olhos. Ele... Como ele percebeu? Chacoalhei a cabeça, tentando afastar mais uma vez meus pensamentos.
-Chega, Lia. –falei para o meu reflexo no espelho.
Tomei um banho demorado, vesti meu pijama e fiquei sentada na cama fazendo algumas contas. Depois de um tempo, meu telefone tocou.
-Ah, oi, é... Eu poderia falar com a Lia? –aquela voz era familiar.
-É ela.
-Ah, sou eu, Lucas. –disse, calmamente.
-Ah, tudo bom? –perguntei, sem graça.
Como ele conseguira meu telefone?
-Tô bem. Olha, eu estive pensando... Você quer mesmo dizer o que você pensa? Sabe, por que você simplesmente não diz que acredita e a gente termina logo essa redação?
-Porque eu não acredito, oras. –respondi obviamente. – Olha, eu vou pensar em alguma coisa.
-Não dá. Você não vai conseguir pensar em nada.
-Então por que nós não dizemos que não acreditamos?
-Porque eu acredito!
-E eu não. Se você também não quer mentir, eu também não vou.
-Certo... Já estou queimando meus neurônios aqui pra descobrir um jeito de fazer isso. –contou, rindo.
-Cuidado pra não botar fogo na casa. –falei, fazendo-o rir. –Olha, se não conseguirmos pensar em nada, faremos isso. A gente tira na sorte pra ver se acreditaremos ou não. Combinado?
-Combinado, então. Bem, boa noite...
-Pra você também. –e desliguei.
Ouvi passos na sala e, quando vi, meu irmão tinha chegado com uma pizza.
-Ótimo, eu estou morrendo de fome. –falei, pegando um pedaço.
-Vou sair com a Thalita amanhã. –disse, contente.
-Mentira?! Ligou pra ela?
-Liguei. Ela é muito simpática. Por que vocês não são amigas?
-Sei lá. Ela é da outra sala.
-O Daniel te mandou um beijo.
-Você tava com ele? –perguntei.
-Fomos comprar alguns livros. Amanhã, ele falou que vai passar na sua escola comigo pra te buscar.
-Sério?! –eu me animei.
-É, nossa, pra quem não se apaixona, você tá muito felizinha.
-Eu não posso ficar feliz? Dá pra você me deixar em paz? –pedi, irritada.
-Acho que não me querem no recinto. Vou para o meu quarto.
-Bobo. Eu vou dormir, tô cansada. Diz pra mamãe que não agüentei esperá-la. Boa noite.
-Eu digo. Boa noite.

Capítulo 7

A Catarina não estava mais implicando comigo. Talvez, por saber que meu irmão já havia me contado que ela o agarrara. Era incrível, eu a tinha nas minhas mãos. Ela tinha traído o Lucas e só eu e a Drica sabíamos disso. Coitado, pena que ele é tão tapado e não vê como a namorada dele é uma biscate. Quando saímos da aula, Daniel estava lá. Parado, de braços cruzados, em frente ao seu carro vermelho que combinava com a cor de seus cabelos. Meu irmão ejavascript:void(0)stava ao seu lado, olhando para os lados à procura de sua musa. Mas o olhar de Daniel só estava na minha direção. Eu fui andando, e quando fui dar um beijo em seu rosto, ele me envolveu em seus braços e me beijou na boca. A Drica e o Mateus ficaram um pouco sem graça e meu irmão nem percebia o que acontecia ao seu lado.
-Olá. –falou para a Drica e o Mateus.
-Esse é o Mateus e a Drica você já viu lá em casa. Gente, esse é o Daniel. –apresentei sorrindo e ele segurou minha mão.
-Olá. –falaram os dois juntos.
-Drica, eu te levo em casa. –disse Mateus.
-Vocês não querem ir com a gente? –perguntei.
-Não. Podem ir. –falou o garoto rindo.
-Eu deixo vocês em casa. –disse Daniel.
-Não precisa, eu tenho que falar com a Drica mesmo.
-Ok, então vamos indo.
Nós entramos no carro e meu irmão simplesmente ficou lá na porta da escola, parado, esperando a Thalita sair. Eu chamei o Daniel pra almoçar lá em casa e ele foi. Nós ficamos a tarde toda conversando e ele me explicou algumas coisas que eu só vou aprender ano que vem. Definitivamente, esse garoto era inteligente. Eu não tinha nenhuma dúvida disso, resolvera contas superdifíceis em apenas alguns minutos. Era tão legal estar com ele. Mas eu não sei, sentia falta de alguma coisa que não sei definir. Apenas um vazio dentro de mim. E aqueles olhos da cor do oceano voltaram a aparecer na minha cabeça. Por que eu estava pensando nele agora? Existem certas coisas da mente que são impossíveis de compreender. Aquilo estava realmente estranho. Eu estava beijando o Daniel e comecei a imaginar como seria beijar o Lucas.
-É... Acho melhor você ir, Dani... Eu estou com um pouco de dor de cabeça. –menti sorrindo.
-Então eu vou indo. A gente se fala depois, linda. –ele me deu um beijo e foi embora.
Eu não conseguia entender o que estava acontecendo na minha cabeça. De onde tinha saído aquele pensamento de beijar o Lucas Machado? Alguma coisa em mim não estava funcionando direito. Eu sabia disso. Achei melhor me deitar. Talvez, dormindo, aquelas cenas absurdas sairiam da minha cabeça. Fiquei me revirando na cama por alguns minutos e depois peguei no sono.



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