Capítulo 2
COMENTEM!
-Fiz uma prova horrível! –reclamei, jogando-me no banco ao lado dos meus amigos.
-Mas você estava sabendo tudo.
-Que saco! Logo Biologia... Mas tudo bem, eu recupero na próxima prova. Vamos embora?
-Vamos. –confirmaram os dois se levantando.
Ao deixar o pátio e sair pelo portão da escola, avistei um lindo garoto alto, com um corpo atlético. Ele tinha o cabelo preto arrepiado, os olhos amarelados, com o rosto meio quadrado e a pele bem clara. Levantei uma das sobrancelhas, me aproximei e ao perceber minha presença, abriu um sorriso imenso, mostrando seus dentes perfeitamente alinhados e alvos. Eu sorri também e corri ao seu encontro, pulando em cima dele e abraçando-o o mais forte que conseguia.
-Lia, que saudades de você, irmãzinha. –falou Vinícius, sorrindo.
-Vinícius, que saudades! Como você tá lindo! Deixa eu te apresentar pro Mateus e pra Drica? –pedi, com lágrima nos olhos.
Eles haviam se aproximado, quando eu saí correndo. Eu os apresentei ao meu irmão com o maior orgulho. Como era bom tê-lo comigo depois de quatro anos! Eu e ele sempre fomos muito apegados quando éramos crianças, mas ele saiu de casa quando tinha quinze e foi morar com uma das irmãs da minha mãe que estava se mudando pra Santa Catarina. Depois disso, nós nos encontramos poucas vezes.
Voltamos pra casa juntos, conversando e quando chegamos, nossa mãe estava fazendo um macarrão, tinha um bolo grande de chocolate em cima da mesa e vários balões espalhados pelo apartamento. Dei um risinho ao entrar em casa e observá-la cantarolando. Eu nunca a tinha visto tão feliz. Sentamos à mesa e ela agradeceu por Vinícius ter voltado. Ele também estava feliz, não parava de sorrir nem por um segundo.
-Diz pra mim que isso não é um sonho! –exclamou minha mãe, com lágrima nos olhos.
-Não é, mãe. –afirmou, sem parar de sorrir.
Enquanto eu ajudava meu irmão a desfazer as malas, ele se sentou na cama e me olhou triste.
-O que aconteceu?
-Eu fui irresponsável. Não podia ter deixado você sozinha com a mamãe quando nosso pai nos abandonou. Eu fiz a mesma coisa que ele e vocês precisaram de mim.
-Olha, eu também acho que nós precisamos de você, mas não há mais nada a se fazer agora. Ela se recuperou, você está entrando na faculdade. Não poderia estar melhor. –falei sorrindo.
-Desculpe-me. Eu era criança, estava com raiva. Só consegui entender a situação depois. –explicou com lágrimas nos olhos.
-Tudo bem... Mas me conta da Luiza.
-Terminei. Ela tinha um ciúme doentio e quando soube que eu vinha morar aqui, falou que não ia aceitar. Aí eu falei que não dava mais. Acho que nunca a amei... Mas e você? –perguntou curioso.
-Eu? Eu tenho que ir... Depois nós conversamos.
-Até mais tarde então.
Peguei o casaco do Lucas, coloquei na mochila e fui até o prédio da Drica. Passei na casa dela e devolvi a roupa que tinha me emprestado ontem e fiquei um tempo conversando. Eu estava parecendo uma entregadora de roupas. Quando estava saindo, ela se lembrou de me entregar o cordão que eu havia deixado lá. Joguei na bolsa junto ao casaco, entrei no elevador e apertei o seis.
No corredor havia três apartamentos. Toquei no primeiro e perguntei se era a casa do Lucas. Uma meiga senhora me disse que ele morava ao lado dela. Agradeci e toquei a campainha. Uma mulher negra e bem alta atendeu a porta.
-Olá, o Lucas está? Eu sou uma colega da escola...
-Sim, ele está no quarto. Pode entrar. É a última porta à esquerda. –indicou sorrindo.
-Obrigada. –falei, olhando ao meu redor.
A casa era linda, tudo estava em seu devido lugar. Os quadros eram perfeitos. Ouvi um cachorro latindo e vindo para perto de mim. Era um Cocker Spaniel caramelo e de olhos azuis. Ele ficou tentando pular em cima de mim, enquanto andava pelo corredor. Bati na porta e o ouvi pedindo para entrar.
-Oi! –exclamou ele, deixando o controle do videogame cair no chão.
-Eu vim entregar o casaco, desculpa não ter avisado antes... –comecei.
-Ah não faz mal. Tá com sede? –perguntou levantando.
-Não, não. Obrigada.
-Sente aí, eu vou pegar alguma coisa pra você beber. –avisou, ignorando completamente o meu “não, não, obrigada”.
Ele voltou com um copo de Coca-Cola e entregou para mim. Eu dei um gole e o coloquei em cima da mesa do computador. Abri a mochila e tirei o casaco, deixando meu cordão cair no chão. Ele se abaixou pra pegar e eu fiz o mesmo. Quando se levantou, bateu com a cabeça no meu nariz.
-Oh, meu Deus! –gritou o garoto assustado.
-Tudo bem. Não foi nada. –disse, massageando o nariz.
-Eu vou pegar gelo.
-Não precisa, eu tô bem. –sorri.
-Desculpe. –pediu. –Posso colocar o cordão? –eu virei de costas para ele e segurei o rabo de cavalo para ele encaixar o fecho.
-Sabe jogar? É de luta. –perguntou, apontando para o jogo.
-Acho que posso vencer uma vez. –falei, segurando o controle.
Ele iniciou o jogo e comecei a apertar qualquer botão. Um minuto depois, o meu jogador estava todo ensangüentado, caído no chão com estrelinhas serpenteando sua cabeça.
-Você tem que apertar esses dois botões aqui detrás. –e colocou meus dois dedos indicadores sobre o botão. –Aperte o xis com o polegar direito e o polegar esquerdo na setinha para a direita. -prosseguiu. –No círculo, você chuta; no triângulo, você pula e no xis você soca. Entendeu?
Joguei mais umas seis vezes com ele e, na última vez, meu jogador golpeou o dele tantas vezes que foi a nocaute.
-Nada como um bom professor... –vangloriou-se.
-Eu sou boa, admita! –falei, rindo. –Acho melhor eu ir.
Ele sorriu e me acompanhou até à porta.
-Tá ficando escuro, quer que eu te leve em casa?
-Não precisa, eu moro aqui perto.
-Vou pegar meu casaco. –novamente me ignorando.
Ele pegou o casaco, vestiu e chamou o elevador. Fiquei o tempo todo admirando minhas botas. Enquanto íamos caminhando, resolvi perguntar o que estava me incomodando.
-Por que você tem sido legal comigo? –ele parou e fiz o mesmo, olhando em seus olhos.
-Eu não a conhecia, eu tô vendo que você não é nada do que eu pensava.
-E o que você pensava? -perguntei, mesmo já sabendo a resposta.
-Que você era fria, grossa e não gostava de ninguém... –descreveu, com um pouco de vergonha.
-É o que a maioria pensa. –falei, dando os ombros e voltando a andar.
-Mas você é totalmente o contrário. –falou, sorrindo.
Seu sorriso era algo perfeito, seus dentes eram brancos e certinhos, era diferente de todos os outros. Ele realmente me deixava perturbada, tinha um pouquinho de sarcasmo, diversão e malícia. Eu nunca havia visto um sorriso tão... Completo!
-Você tem namorado, Lia? –perguntou, tossindo.
-Não. Chegamos. –falei, parando na frente do meu prédio.
-Então até amanhã. –e, sorrindo, me deu um beijo estalado no rosto.
E esse cap. é bem pequeno mesmo.
Enfim, muito obrigada pelos comentários. De verdade.
Eu fico muito feliz com eles. E fico muito feliz também por você estar lendo.
Beijos!